A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quarta-feira, março 25, 2015

COM AS SOMBRAS NA OMBREIRA




COM AS SOMBRAS NA OMBREIRA


É preciso amar as sombras que me falam de ti
Ou as nuvens quando estas ganham formas
Que em tudo se assemelham às tuas ausências;
É preciso. E ser lesto no referir dos olhos
Amoras silvestres de ouvir os gestos
Falar às fontes de teus lábios gomosos lineares
Ou descer pela seda ondeada castanho-ouro escorreita
De teus cabelos partidos ao meio dos sonhos iguais.


É preciso esconder as mãos nas ânsias de ser,
Meter os dedos nos refegos e costuras de existir
E saber que continuar é uma metafísica adiada,
Uma ontologia auspiciosamente pejorativa preterida
Como se de uma vergonhosa mania íntima se tratasse,
Sem recear as curvas derrapantes ou as agulhas marginais,
As culpas assumidas e as projeções perversas,
Os fundamentalismos intolerantes ou as crostas
Sempre demasiadamente rígidas das dores alheias.


Porque é preciso a cada hora minuto segundo reconverter
A ausência saudade em espaço quando imagem acabada
Suficiência compensatória do quanto é irremediável viver
Não sei onde, não sei porquê, mas saber é bastante
É bom ouvir a campainha de “ podes ser tu a tocar “
Retinir insistentemente insistes em esconder o esgar
Num «Olá» impessoal, profano, thriller mal contado
À beira dos dedos com unhas cortadas até à pele de veludo   
Acariciante dos gomos sensuais e meigos em leque dispersos
Pelos gestos indomáveis da fala sublinhando iluminuras.


Sei isso e muito mais que tu também não esqueces
Jamais seremos outros em nós ainda que importe
A conjuntura, o carro novo, a mobília a prestações.
E quando é preciso as coisas acontecerem, acontecem
Ninguém pode mudar a lei porque a lei é a Lei
Não uma decisão da assembleia que calhou votar assim
Tão-só assim, precisamente não doutra lei mas daquela.


É não estares aqui ou eu aí o único órgão que me pesa
Nunca os pés, as pálpebras, a língua também entaramelada.
A sonolência é outra coisa não parecida com languidez,
Mas pode ser um despertar para o reino do sonho
Navegar entre as tuas coxas e naufragar e naufragar
Não importa esquecendo, esquecendo, esquecendo sempre,
Até ao fim do gesto morno de estender os ombros e gritar.


Gostava de pensar que me esperas os olhos postos na porta
A respiração suspensa a cada sombra que se aproxima
Um formigueiro na espinha e as espáduas que fremem
As pernas bambas dum verbo que arqueia o dorso expetante
Prestes a desferir a fantasia no perfil convergente à ombreira
«Eu vou voltar!... » – A certeza cresce ainda cresce
Não repete, não para, não fica aí como se fosse estádio
Mas paragem à tona fluente terna dos absolutos possíveis.

J Maria Castanho


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