A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, maio 31, 2016

OVOS DE PEDRA FRIA




OVOS DE PEDRA FRIA 

Dia em que te não vejo
A poesia morre, 
E a palavra corre
No invés do desejo. 
É um rio sem leito, 
Um lago sem água, 
Débil pulsar, peito
Exangue de mágoa.
É um grito doído,
Na solidão suprema
Do granito polido
Dum seixo rolado 
– Qual ovo sem gema
Pelo verbo chocado.

Joaquim Castanho 

domingo, maio 29, 2016

COROA DE FLORES




COROA DE FLORES 

Como a sede inventa a fonte
Ou o desejo a alucinação, 
Assim eu invento quem conte
Entre as frondes da solidão; 
E que embora aí faça ninho
Não sendo ave, nem anjo também, 
É quem conta prò meu caminho
Pelos caminhos que a vida tem. 

Margem do ser, ledo horizonte, 
Aonde tenho as minhas cores, 
Esses diademas por cuja fronte
Anseiam filigranas às flores. 

Joaquim Castanho

COM A PÉROLA DA LÍNGUA




COM A PÉROLA DA LÍNGUA 

Quase sempre e sempre quase 
– Porque nesta alegria me digo –
O verbo nasce, cria e dá-se
Num poema de mim contigo, 
Tendo os teus olhos em mente
E o teu sorriso como destino, 
Que a poesia é quase gente
E o teu rosto sempre um hino. 

E luz no azul a cantar a vida
Com gestos meigos e serenos, 
Nesse brilho de lua contida
Se numa pérola nos dizemos. 

Joaquim Castanho

sábado, maio 28, 2016

VER QUE PERDURA




VER QUE PERDURA 

Esqueço não sei que parte
Deste verbo por conjugar, 
Que a vida tem a sua arte
Naquilo que só quer lembrar. 
E lembro o sorriso, o olhar, 
Voz, atenção – que o lembrar-te
É da arte tão-só uma parte, 
E a melhor se chama estar. 
E lembro qu'estaria agora
Se pudesse, ainda a ver-te
Sem outra razão que não essa; 
Que a arte é uma escora
Para suportar sem pressa 
O ver que fita com demora
– E fica até merecer-te.

Joaquim Castanho 

sexta-feira, maio 27, 2016

SOL INEQUÍVOCO E INTEMPORAL




SOL INEQUÍVOCO E INTEMPORAL 

Este vício que não quero perder
E me une à íntegra plenitude, 
Escreve poemas pròs não esquecer
Desinquieta-me com quietude; 
Abraça, aspira, exige-me ser
Cuidado exímio, e não ilude
Nem desespera, mas atrapalha-se
Às vezes, se sucumbindo à pressa 
Tem falhas inlúcidas e de impasse
Ante ti, se a timidez se atravessa
Ao caminho de pedras inseguras,
É o meu porto de abrigo, luz e lar
E farol pra essas noites escuras
Da vontade de viver a escorregar
Plas ladeiras e escarpas das alturas
Em que nos sentimos a naufragar... 

Porque dele nasce por que renasço
Cada vez mais teu, mais vassalo
Desse sorriso, sol de meu espaço
Onde refaço a ternura que exalo.    

Joaquim Castanho 

quinta-feira, maio 26, 2016

A POESIA NÃO SE DIZ: DÁ-SE


PRECIOSIDADE ÍMPAR

                


PRECIOSIDADE ÍMPAR

Tenho um sorriso guardado
Para que melhor possa vê-lo, 
Que os sonhos ficam desse lado
Muito bem fechados – e com selo. 
E prò validar, foi carimbado 
Por leais rimas, com afeto e zelo
Que se exigem ao real sonhado, 
Já que tê-lo é só defendê-lo, 
Pra que não fique contrariado. 
A esse sorriso, m'entrego também;
E mais nada peço nem preciso 
Pra ver o universal indiviso, 
Plural e conciso, que esse alguém
Tem, e que mesmo havendo igual 
Não é igual ao de mais ninguém.  

Joaquim Castanho

quarta-feira, maio 25, 2016

ALMAS EM SIMBIOSE (PERFEITA)




ALMAS EM SIMBIOSE (PERFEITA)

Na génese desta claridade
Cuja intenção é reincidente, 
O destino tece, reconhece e faz
Diz, renova autenticidade, 
Em cada sílaba diferente,
O dialeto misto que nos traz
À tona da multidão sem gente.
Então, nada pode a indif'rença
Se do querer é nascida crença
E aval prà realização concreta; 
Que a alma jorra pura e intensa
E abraça, e estreita, e aperta
Na trança de seda que me acerta.  

Joaquim Castanho

segunda-feira, maio 23, 2016

NA INSEGURANÇA DO INÉDITO




NA INSEGURANÇA DO INÉDITO

No exato esgrimir da sílaba alerta
O dizer percorreu corpo, verbo e voz
Que por sua é, era, e será, como certa
E determinada a ser quanto somos nós... 
O seu pendor, e vocação, nos desperta
E mostra ainda tão plurais como sós; 
Tão irreais como a matéria concreta, 
Tão concretos na alucinação precisa, 
Que o próprio corpo ao ser só avisa
Se estivermos atentos; qual profeta 
Que apenas por encomenda profetisa...  

E é nestas alturas, que a lua pode mais. 
Que a sílaba aberta produz aberturas
Onde cada se fecha, esgrime punhais , 
E se agarra às passadas, por seguras. 

Joaquim Castanho

domingo, maio 22, 2016

SENTIR É VIRGULAR




SENTIR É VIRGULAR

No pontuar assumido
Com que o verbo me tripula, 
Andei pla noite perdido
Nessa sede que virgula
– E a vírgula no sentido. 
Fui do lés a lés pla magia
Com encanto acoplado, 
Até rever à luz do dia 
Esse sinal que me teria
Tão-somente iluminado. 
A visão gizara a rota
– Que já pra mim decidira! – 
Pois os sonhos são frota,
Que traz ao leme uma lira.   
Então, com todo o cuidado, 
Perscrutei o teu ouvido,
A ver se sob o entrançado
A vírgula do meu sentido
'Tava no lugar indicado
– Conforme o sonho tido...
  
Não havia dúvida alguma: 
A vírgula aí presente
Era só ela e mais nenhuma, 
Como se fosse ponto assente
Dum pontuar assumido... 
Plo que ficou de repente
A virgular-me o sentido!

Joaquim Castanho

sábado, maio 21, 2016

FLOR DAS BRISAS ESTIVAIS




FLOR DAS BRISAS ESTIVAIS 

Alinhadas com precisão
No rigor da equidade
Vejo pétalas de condão
– Doces flores sem idade... 
Seu labor é sua razão
(Ou responsabilidade)
Quase trigo, quase pão
Alfabeto da dimensão 
Da beleza na verdade; 
E reunião transversal
Na simplicidade eficaz
Com que a flor se faz plural
– Florid'amor, florida paz.  

Joaquim Castanho

SUTIL SAUDAÇÃO




SUTIL SAUDAÇÃO 


Se a sombra tivesse forma
De dizer o que muito calo, 
Seria lei, preceito, norma
D'estreitar o que é ralo; 
Modo com que se transforma
O ser língua (por que falo) 
Como luz que se entorna
Do saber – e cria calo. 
Pequeno toque, solução
Elixir para amor total,
Tal e qual o olhar teu
Quando me deu a ilusão
De ser bênção vinda do céu... 
– Num carinho sem igual.

Joaquim Castanho 

sexta-feira, maio 20, 2016

PEQUENO É O VERBO PRA TÃO NOBRE SENTIR




PEQUENO É O VERBO PRA TÃO NOBRE SENTIR 

N'amêndoa dos olhos duma flor
Trago eu a ideia à solta, 
E verbos por cujo alor
São colibris à sua volta. 
Afloram destinos certos
Dando afeto, mansidão
Se pròs sentidos despertos
Entre gestos e condição. 
E nesse tão seu frenesim
Como mil asas a bater
Polvilham pétalas em mim
– Sentidos que não sei dizer... 

Joaquim Castanho 

quarta-feira, maio 18, 2016

(RE)PARO PARA CRER




(RE)PARO PARA CRER 


Pendurei o meu sentido
Do verbo aveludado,
Desse avelã tão querido
Aos olhos de meu cuidado; 
E o crer, só de querer estar
Nesse caminho medido, 
Onde se encontra sentido 
Para qualquer caminhar. 
Co verb'assim pendurado
Ganha sentir no cuidado
Se o virmos refletido... 
Avelã, fruto colhido 
A reparar no teu olhar  
– E querer ser teu reparar. 

Joaquim Castanho 

domingo, maio 15, 2016

Há mãos que dizem tudo





Há mãos que dizem tudo, 
Que tocam como quem pensa, 
Cuja polpa é veludo
E cor de ternura imensa. 
São mãos que emprestam luz
Aos dias mais soturnos, 
Modelando o que nos conduz
Entre espectros diurnos... 

Eu conheço umas mãos assim
A escrever no ser profundo, 
Com lavanda, e com jasmim, 
Os cinco cantos do mundo. 

Joaquim Castanho

sábado, maio 14, 2016

POR ESSE ILUMINADO CICIO




POR ESSE ILUMINADO CICIO 


É esse o segredo que a alma segrega... 
Que sem tarde, nem cedo, 
O luar venha ledo,
Gritar essa a luz que nos agrega.
E então ela diga, e seja o que quer
Como mulher, menina, rapariga, 
Oráculo onde a primavera prega, 
Põe e dispõe, e assim venha, se vier, 
Numa pérola íntima... (e amiga).  
O seu sonho, minha bússola será
Imenso esse no balanço de nós, 
Irmã do mar, Vénus e Iemanjá, 
Que nos banha – e ata sem retrós... 
  
Lícita tessitura de entretecido brilho
Amar-te-ei como homem finito, 
Mas seguir-te-ei como um filho
Em teu trilho, até para lá do grito.  

Joaquim Castanho

ROTA, MAR E FROTA




ROTA, MAR E FROTA 

Quase oceano rimado
Quase rima, profundidade,
Busco teu rosto osculado 
Antes do princípio da tarde. 
Só tu és quem em mim existe, 
E após segundos contigo
Eis que fico todo o dia assim... 
Andam-me sois na intenção
Luas intensas como olhar, 
E um verbo em conjugação
Que chega quase a conjurar. 
E que conspira, que persiste
Que diz coisas que não digo, 
Que te vê como meio e fim – 
Caminho que traço e persigo! 

Joaquim Castanho  

sexta-feira, maio 13, 2016

SEXTA-FEIRA É COM X




SEXTA-FEIRA É COM X 


Tenh'um sorriso guardado
Mesmo à beirinha de mim, 
Só com os olhos escutado
Já estavam as compras no fim... 
Que quando vivemos de vez
Ou quando somos reais, 
Chegamos a sentir-nos reis
Entre hinos e odes triunfais. 
E somos aquela nota dez
Que nos transforma iguais, 
Contada no sistema de seis
Que é a avó dos decimais.  

Então, o sonho dita o lugar, 
Inventado para cada flor
Com verbo honesto e seguro – 
E sílabas vivas pràs regar
Com gotas simples de puro... ...! 

Joaquim Castanho

quinta-feira, maio 12, 2016

DLIM-DLÃO DE LUZ




DLIM-DLÃO DE LUZ


Tenho ritual de bem-querer
Que não doi, que não magoa; 
Noemas que nascem por te ver, 
Sílabas que meu olhar entoa... 
Oscilante pérola viva, 
Em dança d'eterno alento: 
Tem poemas por nobres pagens, 
Desde que também se sirva
Do viver cada momento
(Qu'enobrece ambas as margens
Do grande rio do sentimento.)

Tenho um ritual que te diz
Como se foras seu respirar, 
E marca dos sonhos à raiz 
Dum brinco – e na alma a brincar!  

Joaquim Castanho 

quarta-feira, maio 11, 2016

VEJO SIRENES EM FLOR

 
 
 
VEJO SIRENES EM FLOR


 

Brincam-m'os olhos urgentes

Com palavras em revoada,

Pardalitando plos teus

– E todos os tudos são nada

Perante os detalhes seus.

D'urgência mas não doentes,

Jogam raios, sem trovoada,

Escrevem caminhos plos céus

– Doces carinhos por estrada.

Brincam, pardalitam tão-só,

Já saltitando contentes,

Por nos apertarem num nó

De palavras... – tão urgentes!

Joaquim Castanho

quarta-feira, maio 04, 2016

SEMPRE É SEM PICOTADO




SEMPRE É SEM PICOTADO 

Ande eu por onde andar
Ou veja quem quer que seja, 
São teus olhos o meu lar, 
Teu olhar que meu deseja. 
Pare eu por onde parar
Ou esteja ond'esteja, 
Estou contigo a rimar
Sem dúvidas nem peleja. 
Que os verbos além de si
Conjugam-se por ti também,
E exigem que seja por ti
– Mas só em ti e mais ninguém. 

Exigência assaz cumprida
No sempre que dura a vida! 

Joaquim Castanho 

O TEU NOME


terça-feira, maio 03, 2016

PELO RIMAR REMAMOS




PELO RIMAR REMAMOS

Imprevista a voz na omissão
Pondera e supõe; todavia
Temos para cada ocasião
Uma fala que não porfia: 
Sugere de manso, que dizer
É já repetida exaustão – 
E perguntar aos olhos se querem ver
Seria omitir-lhes a própria função... 

No adro urbano, intemporal
Em que expetativas passeiam, 
Braço dado, aspiração plural, 
Romarias à porta, procissão
E banda, as gentes anseiam 
Mudar seguras, e gerir as incertezas
Com todas as cartas sobre as mesas.

Direito legítimo lhes assiste. 
Versos querem e não discursos. 
Que a razão com razão persiste
Prà'lém dos estigmas, tabus obtusos.   

Joaquim Castanho

segunda-feira, maio 02, 2016

O TEU NOME




O TEU NOME 

Nobre luz, nobre dia, nobre mês
Nobre amanhã... Tudo é nobre. 
Tudo é cor e sonho e magia
Tão simples que nos descobre
A cada hora em sintonia
À que te vi pla primeira vez. 

O mundo ganhara sentido
(Odor que excelsa flor exala)
Entre surpresa, e eu perdido
Só ouço – o íntimo que fala. 
Porque assim cuido ter tido
A cada dia esse maior cuidado
Ainda mais contigo que comigo, 
Dizendo teu nome mas calado,
Pra que não corresse perigo. 

Joaquim Castanho 

domingo, maio 01, 2016

VISÃO DE CELEBRAR(TE)




VISÃO DE CELEBRAR(TE)

Tenho um poema no olhar
Nascido de ti ao ver-te, 
Com verbos para conjugar, 
E saltitar no eu inerte. 
Trazem dias a reboque, 
Escrevem aves integrais, 
Liras que à flor convoque
Com o toque dos jograis. 

O infinito se lhe rende, 
Poesia culto lhe presta, 
E nisso o povo entende 
Amor co sonho defende,
Com a alma numa festa.  

Joaquim Castanho