A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quarta-feira, março 21, 2007

VONTADES CRISTALINAS


Quando, precisamente ontem, sábado, minha tia materna
Que por sinal é também Rosa de nome e singela de feitio
Me ofertou dentro de uma cesta de hastes de acácia
Trinta e seis laranjas e dois ramos de loureiro florido,
Recomendou que comesse contigo um fruto por dia
Durante trinta dias meia laranja cada, portanto, o faremos
Metade para ti, metade para mim, diariamente em jejum
Como qualquer receita curandeira de mágicas vitaminas
Posto que no trigésimo dia havemos de repartir as restantes,
Três para mim, que guardarei para comer ao lusco-fusco
(Se a noite não se interpuser à tarde de forma derradeira e abrupta)
E quatro para ti, que consumirás conforme melhor entenderes
Sem qualquer imposição de hora, de lugar ou de propósito
Pois a liberdade não se injuria nem oblitera de ponto pronto
Antes se alonga e serpenteia como os regatos de Primavera
Os equinos dorsos de anunciar a bravia languidez das planícies.

Seremos supérfluos que nem o remanso estival dos vergéis
Os dolentes dias adormecidos sob a romãzeira junto à fonte…
Porém, crepitantes no rumorejar cristalino da queda de água
Os salpicos que orvalham de gotículas transparentes a penugem
Os cabelos dos antebraços, o colo até, se te debruças para a bica.

Tens o semblante sonhador de quem aguarda sequiosos cruzados
Solitários viandantes, destinos bamboleantes sobre as selas
Nobres intérpretes da oclusão dos limites secretos da coita.

Há quem diga que o crime que expiras se resume ao olhar
O incêndio avassalador que libertas sobre o gerúndio da estepe
Ressequido que à mínima lucidez arde com ela, alma do estrépito
Nu de rompê-la, aspergindo de faúlhas, de miríades de centelhas
Flamejando imediatas e breves, repentinas ao desejo dos nardos
Como livres lírios que cabriolam o cume de todas as miragens


-- Incluindo as nossas. Uma a uma, gomo a gomo suculento
O sumo escorrendo-nos da boca tumefaciente da procura mútua.

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