A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, maio 05, 2009

Fala do Pescador à Linha


"Bom é que não esqueçais
Que o que dá ao amor rara qualidade
É a sua timidez envergonhada.
Entregai-vos ao travo doce das delícias
Que filhas são dos seus tomentos.
Porém, não busqueis poder no amor...
Que só quem da sua lei se sente escravo
É, de facto, finalmente livre."

Ibn 'Ammãr
(Silves, século XI)

É lógico, ó solitárias companhas pescadoras nas arribas silentes
Que não nos venhamos a compreender perfeitamente, em definitivo
Se vós quereis subir na vida, provisoriamente soletrada entredentes
Mas eu quero apenas descer ao que de mais íntimo nela há, dela cativo
Sou, que tão infinitamente voo, através das asas, que somente ela me dá.

Por conseguinte peço, sem qualquer retórica e eufémica relutância
Que não reprimam meu canto nem o resguardem das correntes de ar
Eloquentes adormecidas na substância ímpar do sufixo desta vida
E muito menos recalquem as palavras insurrectas, flechas directas
Dos poemas que te fiz, Arina a que dança na solidão das ervas e regatos
Envolta em tules e sedas, braceletes de prata e diademas de ouro e cristal,
Porque a Liberdade nunca esquece que existimos antes do bem e do mal.

No horizonte, quiçá o fio de prumo paralelo nível do olhar deslumbrado
Em que as ondas aprisionam a espuma nas correntes dos altos fundos
Onde o zelo condicionado da luz refractada pinta ternas ilusões coloridas
No azul celestial como se este apenas fora o signo avesso dos mundos
Enquanto o albatroz cruza as vagas aéreas na quadrícula margem boreal
Traçando vigas imaginárias com suas ícaras trajectórias a pentear o globo
Tracejados de união que sustêm a abóbada no xadrez das cumplicidades
Das regras inerentes às elipses na órbita das estações do clássico pórtico
Ancestral cais onde as duas colunas suportam todo o peso da eternidade,
Eis que nos conhecemos no anonimato dos @@ sob clave de Sol em pauta
Em tratamento de desintoxicação dos efluídos da espiritualidade ilusionista
Charlatã dos vendilhões de essências marginais andróginas nos concílios
De misóginas estirpes para esterilidade da espécie e destruição planetária,
Eis que esquecemos o tempo em que fomos olhos nos olhos sem o temor
O medo abrupto da reincidência o trauma da experiência falhada, soluto
Amargo, demorada resiliência em recuperar o fôlego para a folgada linha
Essa onde dançam os papelotes e lâmpadas pintadas no terreiro do baile
Romarias suis generis das preces missionárias e casamenteiras de acreditar
Sem ver na obscuridade pejorativa da perfeição divina és só capítulo nulo
Somos apenas púlpito para vociferações intestinas da morte acesa central
Diploma de enredo na satisfação do capricho da cruz que no nicho do medo
Acende a morte e a opressão e a mentira e o flagelo e a ira e a dor como luz.

Apagai os sorrisos, ó cínicos, que tensa a linha do horizonte na tez marinha
Arina se rende ao culto de seus adoradores ocultos e anónimos e sem capa
Nem a duplicidade equívoca dos verbos mal conjugados do vil impropério

Que a navegante das conchas alinha e marca as fronteiras do Novo Império!

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