A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sábado, abril 05, 2014

MUTAÇÕES E SOMBRAS



“A escrita, exterior ao dilema, é a «terceira arquitetura», multiplicação das operações de apresentação do inapresentável: experimentação, construção de cenários, de simulações, multiplicação das lentes, das fontes de luz, das velocidades, etc.”

Sob o reflexo do gesto inaudito desse «não» em chamas
Eis-te a revulsionar a memória esquecendo que me amas.
Tenho medo da morte, porém, perante esta tamanha sorte
Voto-lhe o desdém que merece quem o sul arrefece, aquece o norte
E põe nos olhos da consorte a escuridão profunda das lamas
Dos lodos, das poeiras radioativas e cinzas em que o globo fenece,
Alimenta a desgraça que grassa no oceano sujo e sem graça
E faz das revoltadas águas o resultado dessa humana trapaça
Que é hipotecar o futuro em nome dum presente mais seguro
Erguendo muro sobre muro e a paliçada da censura, contraforte
Fazendo-se vítima da violência semeada a aplicar justiça
Quando foi seu hediondo crime que a gerou nessa novel preguiça.

Estremecem-me os ossos até ao tutano e vacilo entre charnecas
Adulteradas, corrompidas, afastadas da bravura selvagem
Das crises por saldar naufragando pela pieguice das surrobecas
Negras lápides do saber e lamechice da sonsa malandragem.

Dizem produzir para criar emprego, renovando assim os remorsos
Pelo sacrifício de quantos por perigos e guerras esforçados
Se foram da lei da morte libertando, mas gastam em luxos onerosos
Os cobres anhos que nas serras fizeram seus brocados
Ao punho da enxada, aço puro desses hortelões valorosos
Que ainda lhes minam e corroem os espíritos mal exorcizados.


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