A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Moção de Confiança


Tão-só confesso que não sei abdicar de teus olhos
Mesmo quando eles são fresta de raiva amordaçada
Emanam a rispidez dos dias, alicerçam o esquecimento
Desalinhavam o trabalho pelas costuras do dizer
Se alcantilam na infrutífera ocadura do desmaiado
Dilatam a pequenez dos horizontes marginais
Adiada sepultura deste sonhar irreverente e silencioso
Congeminar dos gestos de abandono ao sôfrego pulsar
À emergência de um acto de partir o mundo ao meio
Tu e eu de um lado, o resto ousadia e aventura, grito
Reinos a descobrir, anexos abertos ao sorriso pleno
Desmagoado em si, atrevimento de quem atira os seios
Pequenos gomos de comungar a matriz estética da vida
No que ela tem de encantamento e nela me sucumbo
E derivo, até à infinita partilha num big-bang interior.


Mas também que o meu caminho foi marcado, tendido
Massa compacta de segurar os pés entre as bermas
Não descambar para lá dos limites, o corpo como via
Rápida de emergir na imperiosidade do requerer mútuo
Sempre insaciado de retornar ao tempo que te cabe
Por inteiro sou quando em ti me afundo e me perco
Apenas teus olhos me chamam em labareda ardo neles
Folha ressequida, papiro incendiado, página secreta
Que contamina todos os conteúdos com teu nome
Fazendo dele metáfora imprescindível ao supremo valor
Eco perpétuo para qualquer fala em que me descavo
Retiro a ganga imprópria, lapido o rubi que me lapida
Aveluda o desejo, o querer, a vontade solta de gritar
O beijo incandescente no frémito simples dos mamilos
Determinantes absolutos, imperativas preces dos lábios
Que te soletram deliciados como palavra morna e doce.

Mesmo em literatura nenhum navegador experiente
Sabedor dos impulsos imprevistos das profundas águas
Deita ao mar a sua carga mais preciosa, que salvar-se
Mais depende de igualmente salvá-la, que perdê-la
Pois que assim seria perder o fito à sua navegação
Ao seu eclodir para lá das barreiras do rumar constante
Remar às rimas inauditas ainda mas já lava eruptiva
De teu corpo gritado na dominada devoção ao nome.

Confio-me a ti, nada além sei que dar-me a tuas mãos
Se arrebatadas me arrebatam sofreguindo todos os verbos
Me enleiam na teia, névoa de despertar para o essencial
Condomínio fechado, rosto acerado na têmpera do prazer.

E eis que morrer não amedronta, é como virar à direita
Num cruzamento de sentido único – tudo fica dito assim
Ao sentir teu abraço possuindo-me, possuindo-te enfim!

Porque ainda se lâminas afiadas teus olhos me rasguem
As entranhas não rasgam, lavram e semeiam, aspergem
Com centelhas a ânsia de realidade onde sonhar é concreto
Tão real, que o sonho é só o corpo da alma que aperto...

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