A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, janeiro 27, 2012

DA PRESUNÇÃO DA VELA ACESA

Por mais longe que chegue o apêndice mucal
Nas assoadelas de quem muito se afirma e diz,
O mundo não é nenhum vergel ou culto quintal
Que lhe acabe na iluminada ponta de seu nariz...

Há bastante mais vida para além da de cada qual
Que se insurge como medida da pureza e matriz
Dos costumes ou simplesmente do bem e do mal
Que estruma os preconceitos com que se faz juiz.

Juiz dos outros se se lhe comparando acha superior,
Como se nele se albergasse toda a verdade infinita
Em imaculado pecúlio de nobre e galhardo valor

Cuja lei é ditame mesmo sendo baboseira inaudita,
Bobagem egoísta ou vil desmando de feudal senhor
Que vê razão no mesquinho arrufo em que acredita!

domingo, janeiro 22, 2012

ÓRBITA ERRADA

Neste condomínio fechado o sonho se diz
Aberto de par em par no voo do sol alado
Que do mundo ocidental é original matriz,
A mágica luz do céu d’entretecer nosso fado.

Somos somente peões que o destino quis
Traçar no cosmos em geométrico riscado
Como uma trama de pespontos feita a Xis
Onde temos desde sempre o ser alinhavado…

Podíamos negá-lo, fintar a vida, ferver acesos;
Sem dúvida. Podíamos investir, arremessar
Petardos de desespero que iríamos neles presos

Como braço que se solta e segue assim os pesos,
Os dardos, o disco gizando outra elipse solar.
Podíamos… mas isso seria unicamente errar!
COM O CINZEL DA VOZ…


Se é pura sede a seda doce e quente
Desta luz que me inebria e acalenta
Então, o gesto sublime de ser gente
Está neste voo livre que nos sustenta

Como asas sobre a sela bem diferente:
Essa forma gizada que o cinzel assenta
Feito lápis para um esquisso aferente
Da linha nobre que só Érato alimenta…

É do granito, mas muito que ele, é do grito
Da pedra rude nas crinas se o vento agita…
Que nesta vida apenas se ilude pelo mito

Quem da voz escuta somente a pedra aflita,
A pronúncia imutável, alvo mármore ou negro xisto
Pelouro de ladrão, assassino ou mártir Cristo!



(Ilustração: escultura do mestre canteiro de Gáfete, Viriato Mafaldo)

domingo, janeiro 15, 2012

NA LUZ DA FALA


Acorda-me a voz sob a chama da alma plena
Que dita fala é a língua do sangue aceso ímpar
Labareda que ao sigilo ledo da lira subtil e serena
Ondula seu corpo de ave à solta num breve esgar…

É esse o suplício de quem ao amor todo se entrega
Sem o receio do voo ante o senil tédio da sede amena;
Que o grito é mais forte que a voz que ao medo prega
Como virtude e o esperar como lide de alor suprema.

Não, não quero esquecer dos sentimentos a pura chama
Nem de meus afetos o enleio sequioso, íntimo e intenso…
Quero lê-los com a pronúncia declarada de quem muito ama
E a sofreguidão de quem se dá, que tanto, ao dar me pertenço

Feito aceso consumido, que a luz é água na cascata da vida
Onde me bebo e bebes pela fala duma língua apenas querida!

segunda-feira, janeiro 09, 2012

TRAGO DE LUZ

Quando celebramos a noite das noites
E a alma nos desperta acesa, docemente
A Lua escolhe de seus dons, meus afoites
Em beber do cálice, a pétala fulgente…

Por isso, ainda que em teu seio me acoites
E libertes dessa corja senil e demente
De quantos têm por palavras, açoites
Mísseis de alcance bélico e contundente,

Só posso garantir-te minha entrega plena
Total, de lés a lés entre a fé e a confiança
Que o ser é o lago que reflete a luz serena

Da Lua tutelar cujo brilho assim alcança
Todos os continentes com a mesma lança
Que Cupido dispara em flechada pequena!