A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, setembro 25, 2007

Diapausa poética (obrigatória)

Beijei-te como se beija tudo de madrugada.
Com esperança. Com a esperança intuitiva, crida
Fé, e o determinismo arreigado das gentes da terra.

Foste-me cara. Portanto autoridade no assunto dos corpos
Que se entrelaçam dependurados da certeza e do erro
Como cachos de ignorância madura no Setembro vindimado
Preconceito a preconceito. Mas tive que abandonar-te
Perder o meu amor de juventude pintado em verde tolhido.

Agora sei que o teu caminho não é o meu caminho quando
Caminho e expectativas nunca serão as mesmas em nós
Tudo é contrário desde a lógica ao processamento mental.

Descobri que a autocrítica está em cada um dos meus passos
Vacilante é este saber conjectural que me ultrapassa
Em que os erros são escaladas importantes pra conseguir algo
Que nem eu sei mas é precisamente por eles e neles que aprendo
A ser quem sou, me provoco aberto e diferente,
Inequívoco resultado de mutação e escolha sem escolher.

Não acredito, nem nada sei por projecção do particular no geral,
Em leis imutáveis derivadas dos astrolábios estatísticos.
E as minhas teorias, hipóteses, insinuações, poderão ser falsas
Ou verdadeiras mas sempre autênticas provas da impulsão
Não compulsiva, não dádivas dos deuses ou da experiência
Breves arranha-céus na arquitectura do sonho lesto. E ledo.

A priori serei tão responsável e emancipado como a posteriori
Porque tudo o que em mim foi assimilado deixou de ser pertença
Exteriores são em mim as declarações com que produzo a verdade
A minha verdade objectiva, rigorosa, intransmissível, postular
Manifesto dos sentidos para melhor saber
O combate profícuo ao conhecimento seguro
À intolerância
Ao sofisma
À petulância
À desonestidade
À arrogância
Ao preconceito
Às vacas sagradas
Aos intitulados titulares
À percepção motivada
E à presunção intelectual.

Pois jamais me permitirei imperar sobre os três reinos
Paxá do espírito, califa do verbo, general da matéria
Mas sempre o escriba copista, aritmético e agrimensor
Astrólogo das cheias e do sonho no granito das esfinges,
Contabilista de oferendas e guardião de celeiros
Humilde e incansável que se refaz do inundado delta
Foz de teu corpo em que desaguo como vocifero cesto de luz.



Ver é ser – e ser é tudo quanto se vê

Cada silêncio é mais silêncio
Se nele houver a reserva tímida
De quem por réstias espigas de senso
Deseja aprender a desfolhar a dúvida.

E eu, aqui duvido, num retiro imenso
Refulgir de fulgor irremediável e intenso
De nova crença mais perto da vida...
Duvido que aqui não estejas dividida
Pelo écran, na jorro de luz que da janela vem,
Pelo clicar da escrita e da razão também.

Duvido que tuas não sejam as formas que vejo.
Duvido porque te conheço, me conheço e reconheço,
Como quem sabe onde é seu fim e seu começo,
Porque saber é ver como és, e ser teu (no desejo).

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