A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, outubro 16, 2007

Adeus


Tu que viajas no gesto indeciso
De quem parte em busca do amanhã,
Crê que o mais do mundo é o teu sorriso
Que faz com que a vida se não torne vã.

Porque eu, que já não estou aqui
Sou aquele que contigo vai (e fica);
Sou aquele que contigo também parti
E só partido ama e se multiplica.

Porque esperar é ficar, no encanto
De quanto se quer – muito, sempre... e tanto!




Casca de Nós



Há dentro de cada um, assim o outro mundo
Repleto de outros outros, diferentes, iguais...
E que ao reconhecê-lo repovoam o ser profundo
Comum a todos os seres humanos, comuns mortais.

Por isso, na concha do que somos
A pérola do que seremos mais,
Nasce, robustece, brilha do que fomos
Em reflexos vivos, cintilações de puros cristais.

Sem esgares moralistas de bem e de mal,
Mas com os olhos vítreos vertidos no sentido plural!




De Norte em Ursula (K. LeGuin)


Liberdade que posta estás no corpo da alma sem dono
E adornas o grito das flores nas ravinas da esperança,
Eu te imploro sem receios nem máscaras de adorno
Que leves meu beijo de sonho e pétalas de criança
Àquela que em desejo apenas meu crer a luz alcança,
Como se fora um dia na noite a aurora do futuro aberto,
E diz-lhe que, às vezes, o mais longe dos longes, é o perto!




Entre Utopia e Inquietação


Onde estou?
Que fizeram à caixa negra
Do meu voo?
Se tudo é norma, excepção e regra
Então porque sou
O sem-sentido perdido,
O esquecido de mim
Que caminha desmedido
Numa estrada sem fim?

As arestas dos sonhos me ferem
Me raspam a carne viva da alma...
Que enquanto fizermos o que querem
Nunca dentro de nós teremos calma.

Sonhar é isso mesmo:
Fritar o ser, pô-lo como torresmo
Ressequido a que tiraram todo o sumo,
Estaladiço, quebrado por consumo
A consumir-se estralejante e esmo.

Onde estou?
Que fizeram à caixa negra
Do meu voo?
Se aquela que era
Da era grega
Já não sou,
Então porque vou
No grito que ecoou
Como pura regra que agrega
Quem de si partiu e partindo-se voou
E se uniu até que soou?

Sonhar é isso:
Perder qualquer perdão...
Hipotecar o esboço, o esquisso,
Pondo a sinédoque ao seu serviço,
Trocando o todo pelo quinhão.

É a simples máscara da Utopia
A inventar que somos originais
Na multidão dos comuns do dia a dia,
Quando afinal só na ilusão somos mais
Que em tudo o resto somos iguais

Num mundo real e despido de fantasia!

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