Nascimento de Vénus
O silêncio desperta, a noite calada avança...
No fundo, no íntimo de cada um
A força irrefutável de estar presente: só
Apenas gesto, silhueta que se apaga ao cair
Morrão de cinza entre dedos que se esquecem,
Olhar perdido entre as nuvens e a planície
Andorinha em voo que cruza a moldura da janela
«Vhuuummm!!...» de carro que passa na estrada
A esconder-se no silêncio que fica depois.
O catarro do vizinho no subir das escadas
Recorda que as convulsões do corpo de vãs
Somente têm a indiferença que lhe votamos;
Resfolegante o prédio como um paquiderme
Cansado exala os odores do jantar prestes.
O indicativo do telejornal apaga a ausência
A campainha do terceiro andar besoura e retine
Uma formiga de asa deambula no peitoril da janela.
Batem os saltos de alguém que passeia o cão
Sem pressa num compasso de espera incerta.
Mas do alto desta quietude de borracha fria
Que raspa e desvanece as impressões do dia,
Silenciado nos ecos da memória de ninguém,
Do escurecer nasce a estrela que antes não via
Lembrado-me que quem se não dá, nunca se tem!
Sem comentários:
Enviar um comentário