A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, outubro 30, 2007

Testamento

É provável... Mas digam o que disserem
Não há ninguém de quem queira, enfim
Na vida despedir-me:

Quando eu morrer, rasguem os meus poemas.
Todos! Que não quero e abomino a imortalidade.
Nem lágrimas de lástima, que das duras penas
Já me bastam as quantas em vida sofri.

Quando eu morrer, digam tão-só que morri.
Nem mais! Não quero da incerteza, a dor
Chega-me saber que foi num dia assim.

Quando eu morrer, seja a que horas for
Se algum amigo ainda por aí houver,
Então, que beba um copo por mim!


Aliteração climática


Eu persisto. Tu persistes. Ela ou ele persiste.
Nós persistimos, mas ainda não chegamos.
Falta como que o detonar dessa imagem inaudita
(Re)mata-nos a voz na metáfora de existir.

Artesianos olhos pedem queda embora impossível
Como a descrição da água em que se mergulha
Ao nela mergulhar ondulantes sedas exigem frota
Mas os dedos já longe de partir deixam-na escoar-se
Soltos de silêncio nas ravinas da sólida ansiedade
Metálicos sorrisos de rasgar a sombra, em cutelo
Ecos interiores das grutas abrigadas deste ocaso
Não outro mas o de hoje, dia das quimeras mil
Feito quadro pintado no verniz equidistante de Abril.

Onde se reflectem, sem qualquer ordem no dispor,
Flashs outonais de um resto de fogo no ocidente
Da cor de um frio próximo que se quer quente!


Chapéu Preto


Fechado o círculo das aparições difíceis,
Hoje Catarina não vai à fonte.
A guarda, concentra-se no passado ido
E próximos ambos em seu jeito de grito
Afloram a corrente das sedes que matam
A água da angústia nas gargantas secas dos segadores
Na opinião fútil do ondeado mas oblíquo oceano amarelo
Que resta restolho sob a brisa das lágrimas.

Mortal, mortal, somente a semente do esquecimento
Se dito o sino ditado que às lebres quando lado a lado
Correm o sexo não lho sabe ninguém,
Como na luta por uma vida melhor também.

O que é o homem? O que é a mulher? Tanto chapéu
Que se levanta e acena negro ao luto azul do céu...

Havia uma fotografia lá na casa da minha casa
Da casa que tinha uma casa dentro da casa
Que tinha outra casa dentro da casa com que se casa,
E nessa fotografia o olhar dentro de um olhar vindo de dentro
Como da alma da casa quando no olhar da casa entro,
Que sorria, como sorri qualquer vitória
Com ironia, num claro oxímoro da História
Feita um dia memória que se apaga de repente
De onde se escolhe a escória atirando fora gente.

Foi como ver as espigas levantarem-se do oceano.
Foi como ouvir o murmúrio do Zeca baladeiro.
Foi notar no preto chapéu do mar o mar de chapéus,
A baloiçar como naus numa dança moura de véus,
Lanternas de vermelho mágico incandescente
Partindo águas fora lançando luz de pobre braseiro
Noutras margens, noutros portos, noutros feltros
Apagando em suma a bruma dos caminhos neutros
Derramados pela queda palavrosa do tinteiro
Sobre a folha branca das letras caladas, a voz tremente
A recitar que outros tantos nadas são apenas gente.

Coisas de abrir e fechar, latas de atirar fora,
Que enquanto navegar for igualmente esperar
Dificilmente a experiência da vida nos melhora!

Quadros de olhares na demora de outros olhares
À espera que o olhar diga o que só a alma implora,
Que quem deveras quer, grita sem esperas, não chora
!


Alcatruz de Esmeraldas


Havia um mundo dentro do mundo
E dentro desse mundo um jardim
E dentro desse jardim um canteiro
E dentro desse canteiro uma planta
E no cimo dessa planta uma flor
E dentro dessa flor um nome
E dentro desse nome um espelho
E dentro desse espelho o teu rosto.

Primeiro, parecia um sonho.
De seguida, uma urgência.
Agora é toda a vida
Numa salutar demência.

Do fim, ninguém o saberá,
Incluindo eu e tu somos acaso
Euclase que do ouro o brilho dá,
Cristal de lágrima onde me desfaço
E ouso, em carne viva até ao osso!

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