A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, outubro 09, 2007

Grito escutado gritando



Não... Não quero mais ser pintor
De sonhos
Quero parte activa em teu corpo
Inacabado estou e ele está
Estará
Estaremos sempre se sós
Pusermos aqui
Os fantasmas... Sim os fantasmas morrem
Quando abrimos a boca
Na boca das coxas delirantes e trementes
Exultantes de sôfrego espasmo
Do sonhado, ostra quente
Grito gritado e fulgente.

Não esqueças nunca quem somos
Somos a génese do mito
E gritamos o estertor convulso
De inventar o abismo no corpo desejado
Que deseja a revulsão de ser inventado
Na tumescência viva dos lábios que o percorrem
E desvendam
Os olhos vendados pelo sonho
Persigo cada poro da tua cútis como um cego
Rendido escravo que implora a morte
Que se imola no fogo que nos arde.

Escuta-me escorrente de auroras liquefeitas
Abraços que doem parar
Descomandado de mim
Apenas sei o caminho da tua vontade
Que regresso a casa sempre que me chamas
Em chamas perdido por perder-me.

Não, já não sei ser pintor de teu corpo
Mas antes tinta lava que lhe pertence
Se lhe submete possesso e desenfreado
Cavalo incandescente que nos transporta
Para lá da planície derretendo o vermelho barro.

Sucumbo. Sucumbo e tombo varrido
Pelo sopro do teu grito no incêndio da voz
Que me estraçalha a ânfora dos restos ancestrais
O vaso que guarda o princípio do tempo
Que o tempo infindo dos séculos foi pouco para apagar
Brasa que acende o fogo da eternidade nos teus olhos
Mergulhados nos meus até perder-me de quem sou
Esquecido de ser no assim explodido do fim renascido.

Quero a brutalidade de não querer nada
Além de entregar-me todo ao teu querer
O suplício húmido de teu sofreguido verbo
Que me conjuga e envolve e manieta e diz
A pulsar a selvagem imensidão do para lá do lá.

Não, não quero mais ser o pintor
De teu corpo na inconquista apagado,
Que prefiro ser dele o que lhe brota em amor
No gesto inequívoco de um conquistador
Conquistado.

Sei que enquanto houver esperança na esperança,
Enquanto houver um sei que sabes que sei qualquer,
Enquanto a fé gerar a magia do adorador adorado,
O sedutor seduzido, nunca deixarás de ser a criança
Retouça irreverente que adiou ser gente em ser mulher.

Não, não quero mais ter-te inerte ao fim do dia,
Como coisa sem vontade, sem desejo, que crê haver mal
Em possuir o beijo da ousadia, em plantar plural
Onde apenas na aridez do género um existia.


Quero-te aqui por imposição a querer-me
Que vencer-te é um saber que me venci
Tendo-me a querer-te quando me queres dentro de ti.

Quero-te aqui, como tu apenas sabes estar
A inventar o mundo por inventar
Proferindo o grito infinito de nascer,
Que o futuro é um presente a gritar
Que amanhã também quer e pode viver.

Quero-te aqui possível no impossível imenso
Batalhando o corpo até raiar o nome, no grito
De rasgar como raio o nevoeiro denso
Partindo muro sobre muro e chegar ao infinito.

A escrever teu gesto, na areia do tempo
No mar da lua
Na pressa da rua
Na multidão do ar
No átimo do poder
No ouro do olhar
No fito de vencer
No rito de viver
No possuir sem crer
Querendo para ter
Em aqui e agora
Sem sempre nem nunca
Num hoje vida fora.

Quero-te para te querer
Como quem tem para crer
E ao ter crê que tem
Um ser por ser teu também
Sendo os dois de ninguém!

Mãos nas mãos, grito no grito
Como corpo no corpo possuído,
Que a salvação é estar aflito
E no gritar do outro ser ouvido!

Sem comentários: