A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sábado, abril 12, 2008

Vegetal de Vaga e Mundo

1.

Se me recorro me confesso
Desfaleço e embriago na voz profunda,
Me recolho aos infinitos mitos
Passos inseparáveis da melodia
Oceânica.

Se confesso me prometo
E arremeto e jogo num corpo novo,
Renovo os anos abertos
Despertos os bolsos vazios
Aos cantos dos olhos a espuma
Das horas felizes.

E se me prometo me arranco
Tranco as raízes da língua viradas
Os verbos à tona das páginas vidradas
Os ombros rompendo a solidão escrita
Das algas.

2.

Desculpa cigana,
Teus lábios, gomos de laranja doce
Teus olhos (es)correntes de sumir na estrada
Teus beijos em sumo de pedir perdão
São – mas antes o não fosse! –
O brilho da noite enluarada
O desejo a explodir na paixão
Com que nos desvendámos num desvão
De escada.

Cheiravas a orégãos, giesta e milho
No patim do condomínio sem fim.
E agora é teu o meu trilho
E a planície um amplo caminho
De olhar rés e muito cuidadinho
Na procura de mim.

3.

Cigana, fala-me dessas vozes infindáveis
Do sol-pôr sobre a azinheira ao cimo da seara,
Fala-me do luar sobre o cabeço do monte.
Fala-me de tudo quanto eu te conte,
Fala-me dos cavalos nos vales verdejantes,
Fala-me de teu jeito de desenhar nichos
Losangos, quadrados, cubículos na simetria
Alçados manuelinos de exóticos frutos e bichos
Mas não deixes acordar a multidão do dia.

Cigana, fala-me em teus gestos de laranja e preto
Daquelas coisas distantes que nenhum de nós sabe,
Do grito da terra, da muralha onde o suspiro cabe;
Fala-me do silêncio no abraço de estar tão perto.

Cigana, fala-me do encontro das linhas de teu rosto
Entreposto da mala-posta aos murmúrios do sorriso
E diz, diz outra vez quanto do desejo é fogo posto
Na floresta comburente e ressequida do meu juízo.

Cigana, faúlha, pérola brilhante, luz de secreta chama
Queima minha dialectal voz com a tua língua profana.

4.

Se és espelho no jogo das palavras mortíferas,
Oca torrada na vermelha argila do sangue,
Esteva florida na noite rupestre, colibri de coníferas
Então, vem ousar como meus pintassilgos livres
E faz o ninho neste mangue, nas folhas deste cipreste!

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