A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, abril 15, 2008

Albatroz V

Tudo está no seu lugar: o PC, o Word, a Gramática,
A fantasia e uma necessidade infinita de dar vida e som
A um pedido do desejo e respeito pelo fraterno sonho
Para hipoteticamente resolver inicial fenómeno criador.

E venha a mim, na imaginação, a palavra simples e exacta,
Sem ensaio nuclear, sem Einstein nem Newton,
Sem morte nem razão, mas a fórmula primeira do habitat
Deste espírito inocente e tardo com que nasci,
Por entre as espigas de Redol que na labuta sego,
Em veneração ao amor antigo e verdadeiro
À Vénus, que tanto como Deusa, como Mãe, como Terra.

A que fez a luz e no arco-íris pintou a cor,
Que transformou o caos em prazer
E a que voltamos na busca do calor,
Do pólen que somos: apenas aquela flor
Nascida de si mesma como um suspiro qualquer
A quem invoco e nomeio de Geia, Musa e Mulher.

Porque grotesco é o verbo azul no breu do céu
Quando aspergidas as nuvens da fala se soltam
E breves vêm dessedentar-se nos ecos do murmúrio
Nas carícias de tua pele clandestinamente nívea,
Sob a polpa de meus dedos invasores selvagens e arruaceiros
Que açulam e incitam os enxames de silêncios
Magoados nós na conjugação do corpo a desferir o grito
Vivo de infinito rio que lava e desanuvia o espanto original,
Com requebros e pronúncia hitita amadurecidamente celta
Na ecolalia do ventre que dança ao tinir dos cristais universais,
Golpe de asa que baloiça na poeira cintilante das galáxias.

Onde a eleita subiu degrau a degrau a fortuna ventura
Para olhar ao de redor de si e ver. Estava só.

E um pouco mais ágil a solidão do verbo
Que a idade encaneceu lhe dobrou os ombros
Sob o manto púrpura para esquecer que outros socalcos
Degraus a degraus até ao cume da espiral infinita
Se desenrolavam na pedra muda e um a um se seguiam:
Cruzou cinco, sete e dez portas
Arrastando consigo nuvens de violetas silvestres
E as nuvens negras sucumbiram pálidas e mortas
Tilintando as trinta moedas da traição para fundo do poço
Do poço sem fundo do tempo como guizos de maldição.

Portanto cedo e cedo, logo, loguinho pela manhã
Te descubro o rosto por entre os ramos da casa,
Verdes de cipreste, amarelos de acácia, ranhando a vidraça
No felino ronronar do vento, os sonhos que nele partiram.

Não saber se aquele gesto de adeus o é, ocaso de acaso
A ignorar conjecturas acerca de como só partindo se chega,
Tudo sinais de continuação no mundo que nos liga,
Eis quanta da atrocidade da aurora do sem limites
Nos limita à felicidade de arrancar o dia ao grito do silêncio...

Mas é quando em ti me dissolvo que me salvo
E dedos nos dedos, olhos nos olhos, bocas coladas
Te percorro e me percorres as veias uma a uma
Tacteias o facto em realidade e me contas por fábula
E me recontas gesto próprio entre as falas que recebes
E emites entre as fábulas da idade única me percebes.

Sem comentários: