A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, agosto 13, 2010

acta nupcial

Nesta Lua Nova, sexta-feira, dia treze do oitavo mês
Estou em Uruk, meu amor, a vinte e cinco séculos de ti
E as árvores são as mesmas árvores cuja sombra te abrigou
Os animais rareiam mas são tão iguais aos que perseguiste
Excepto aqueles que nunca cheguei a conhecer se extinguiram
Os mesmos rios correm com idênticas águas sempre outras
O Tigre e o Eufrates antes cristalinos e insubmissos fluem
Agora tímidos e sujos e estagnam em barragens avulso
Os homens e mulheres já não flanam em sedas, linhos e lãs
E os brocados perderam as figuras geométricas que os esculpiam
Os losangos, círculos e triângulos da incógnita decimal divina
Nem inquietas danças balançam sob a sua passagem fugaz.

Mas esta esquina é a mais frequentada da cidade desde cedo
E nunca me falta trabalho, às vezes ainda se não vê claro e já
Tenho agricultores ou ricos negociantes para grafar contratos
Viúvas que querem mandar cartas a seus filhos e mais parentes
Nem nunca me faltam as tabuinhas de alabastro e terracota
E a deusa Inanna protege ciosamente altiva os seus súbditos
Porque Inanna, deusa do amor e da fecundidade, também é fiel
Súbdita incansável de Arina cuja luz a todos igualmente ilumina
Incluindo Gilgamesh, Enkidu ou até o sobrevivente Shuruppak
De quem o dilúvio quase tornou o único homem sobre a terra,
Embora se saiba hoje que não foi assim, pois todos aqueles
E aquelas que ao momento adoravam A Deus nos altos píncaros
Dos montes se salvaram ilesos e íntegros na carícia do vento
Como quaisquer frutos altaneiros a que as águas não atingem
Ou o voo das aves se torna impróprio ante encascada polpa.

Foi a principal prova do poder e gratidão de A Deus entre nós
De como o seu louvor é benfazejo e imaculado e são e puro
E de como nele os netos dos homens se fazem à medida avós
E de como o mundo todo é seu templo sem cúpulas nem muro.

5 comentários:

Mônica - Sacerdotisa da Deusa disse...

Oi meu amigo!
Que delícia ler algo lindo assim logo de manhã...e ainda citou Inanna. Agradeço aos Deuses por existirem pessoas tão inspiradas como vc.
Deixo aqui uma dica de uma canção linda sobre Inanna que se chama "Song to Inanna", cantada pela Lisa Thiel no cd "Jouney to the goodess". Vale a pena.
Beijinhos querido amigo poeta.

Flores e Luz.

Joelma B. disse...

É tão fácil falar de saudade... Quando me sinto insatisfeita, sinto saudade de qualquer tempo, vida, sei lá, que me saciava... que me fazia feliz...

Tenho a sensação de que isto é desde sempre...

Obrigada pelas visitas...

Abraço!

Lídia Borges disse...

Um texto cuja leitura é, de facto, um prazer.

L.B.

Em@ disse...

Muito obrigada pela partilha.
amei.
beijo

Joaquim Maria Castanho disse...

Um imenso prazer é também este de ver-me tão bem frequentado... Sois realmente maravilhosas, como a vossa visita neste cantinho, é igualmente uma benção de inegável valor e apreço. Que Arina vos contemple com seu abraço de luz e ternura!