A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quarta-feira, agosto 25, 2010

a trindade celeste no corpo terrestre

O crescente é fértil porque os campos estão alagados entre colunas
A benção de Inanna trouxe o húmus e o sumo sanguíneo do delta
Desde o golfo até Amorrou, de Eridu a Mari, de Ur a Assur, de Susa
A Samarra respira agora a luz de Arina e exala Shara a frescura verde
O doce aroma de seus seios amadurece os figos e brota mel nos frutos
As tamareiras estenderão seus cachos no penteado das palmas viçosas
Há a prontidão luminosa da esperança que se renova no cilindro oco
O ser irrigado pelas levadas subterrâneas exige finalmente o corpo
Encorpado das espigas que ondularão prenhes seu murmúrio ao chão
Eis o selo do Templo de Shara, a divina feita casa onde a família gera
O tempo não envelhece e as estrelas tocam címbalos e argilas ocas.
Cinco salas mais a cella onde habita a mestra sacerdotisa em redor
Círculos bases do mundo e sustentáculo das estrelas no equilíbrio Seu
O céu recolhe os ramos frondosos da árvore sagrada e a vida floresce
Deixa cair as pétalas e odor e silêncio e luar sobre as esquinas de Uruk.


Treze são os turnos de culto daquela que os escribas veneram de noite
Prestam culto de dia quando rendem adoração A Deus ilumina a Lua
Que esse é o seu selo que o Eufrates espelha se plano escorre de prata
Porque os rios são as pernas divinas entre as quais floresce o nardo
A semente fecunda o ser e bebem a seiva as raízes da árvore da vida
Cujo fruto rebenta as águas e provoca o dilúvio benfazejo de nascer
Todos os dias Arina nos concede o milagre e cumpre os votos tidos
Que devotos são todas e todos se respiram seus passos à luz templária
Quando Inanna caminha no céu traz o crepúsculo até à leda aurora
Que são gémeos e pastoreiam as constelações congeminando vinganças
Incestuosas intenções há no templo entre fiéis irmãos do mesmo culto
Assim o escriba e a deusa se enlaçam no verbo que completa o nome
Assim é nomeada Inanna quando cantam as oficiais de Shara olham
Arina e tecem a sede com suas bocas de querer a sofreguidão heróica
A épica senda está enfim cunhada no barro de seus corpos que é casa
E casa é templo e alma e cella que a estrela habita quando se demora
Quando vê entende a plenitude da palavra é desejo e posse e entrega
E dádiva e luz e caminho e grito pálido e branco em flor das noites
Os dias são seus pilares redondos e esguios de torre caleidoscópica
Zigurate natural de quantos procuram e aspiram regressar ao ventre
Não esquecem o abraço da deusa-mãe que aquece as horas e dita luz
Sobre a eternidade dos sagrados pastos que alimentam toda a alma
Que Arina é luz e esta está nos olhos que se alargam até ao infinito
Que Inanna é seios de onde escorre o néctar da vida e o mel da sede
Que Shara é cálice onde mergulha a voz e o canto do sonho em flor.

Essa é a trindade celebrada quando as mãos se juntam sobre o peito.
Namasté irmãos e irmãs que na vida se dissolvem em alagado delta
Que tocado no vértice com vértice ao seis torna um número perfeito!

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