A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, agosto 27, 2010

lenda da origem do firmamento


Ainda rendo gosto às palavras indizíveis por dizer assim inauditas sejam
Malévolas e insubmissas e infiéis espartilham os devotos, os atam ao tempo
Pertinazes os atiram ao fundo de si mesmos sem reserva nem contemplação
E lhes vociferam e estilhaçam a alma solta em cada sílaba incendiária agreste
Em cada estremeção da carne viva perante a impiedosa brisa afiada e acutilante
Essa igual que acaricia as frondes das acácias no fustigar da rama superficial
Nos outeiros dispostos sob o acaso do olhar que intenta romper os limites
Ali, interrompendo a linha do horizonte marchetado apontando linda ao infinito
Na paisagem os dias sob a paleta das vozes íntimas se fizeram inseparáveis.


São para ti na erosão corrosiva dos sentidos todos os minutos crucificados
Horas únicas ao resfolegar da planície seca e aberta perante as distâncias
Ao grito do fogo posto de não estares presente, nó de Isis a cujo culto brando
Entre os seios no lúdico sustenido do coração ansioso pende e oscila enredos
Longe e desesperado de tão próximo, próxima aproximo a ansiedade máxima
Eis os lábios, nele reponho meu beijo de sofreguidão perpétua a gritar estrídula.


Morrer para a eternidade é apenas um gesto, palavra de tender o arco da voz
Dita sem eco a resvalar na curva apertada do tempo numa manobra fugaz
Sucumbir ao ritmo do teu pulsar no convulso arquear equíneo do felino salto
Do dorso e desferir a seta do desejo num disparo sem volta e sem remorso
Eis igualmente como nos entregamos um ao outro e sós até à solidão palpável
Infinitamente sós renascemos do exíguo fio de prumo que prolonga o infinito
Pendulando na fala inesgotável de dizer sempre o derradeiro sentido do signo
Lugar da história comum ao espaço-quando dos corpos no mais-que jungidos
Se conjugam e aspiram e fundem num apenas um grito de liberdade fulgente
Disferida por mil sóis que nos rebentam no simultâneo da nuca e ecoam, ecoam
Ecoam, ecoam, ecoam, ecoam, ecoam, ecoam, ecoam, ecoam, e-cooo-aaam...


Eis por que eis o porquê do laço nos une sobre a cruz do peito as mãos juntas
Alicerçadas no elo esfíngico de aglutinar o verbo inicial primaz inconformado
O que encerra todos os indizíveis ainda por dizer ou que ditos calmos urgem
Vogam na celestial aspereza da lonjura inominável – eis o sonho, eis Arina –
Eis o porquê de que por eis se manifesta presente o futuro no passado profundo
Ancorado sem contornos definidos está o nome, aquele que pronunciado ousa
Invoca a eternidade perene e duradoura do sentimento esculpido a golpe de asa
Que não desfalece e solto volta ao princípio dos princípios esvaindo-se meigo
Até ao delta da voz primordial como se a luz nascesse de si própria em si outra
Luz renovada essa a anunciar paixão cometida do silêncio exige conhecimento
Abrigo da foz ao ciciar do desejo incontornável dos corpos unidos pelos vértices
Abertos e plenos à entrega final sem parangonas desmedidas ou esquecimento.


Porque épico é o abraço na distância de morder o tempo, assim lesto se apronta
Abocanhar o laço de que a cruz é nó e sinal e sustento e verbo e nome indizível
Sustenido inconstante de dizer-me Aqui, eis-me pronto perante tua boca acesa
A receber-te plural na infinita agitação da espiral dissolvente entre significados
A que joga os pedaços de mim e de ti aspergindo o cosmos, estrela a estrela,
Estrela a estrela, pestaneja breve e repentina, eis a flor na onda o mar de Arina.


Eis que assim falou Mestra de Shara à Assembleia Maior no Templo de Inanna!

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