A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Secreto Apêndice de Recordar a Alma

Podia ser hilariante porém é quase óbvio por repetição
Analógico, mas às vezes torna-se absurdo senão trágico
Desenhar teus lábios, cabelos, rosto miúdo de mulher
Menina digital, sorriso pão da alma que o sonho requer
Apenas com a paleta ou lápis que me sobram das pupilas
Abertas, assombradas no espanto do arrebatamento ímpio.

Disseram-me que amanhã será o segundo dia do presente
E é possível, creio, haver algo inaudito nessa pítia predição
No desaforo, ingrato propósito de espera em cada esquina
De quem apenas quer ver-te surgir da multidão transeunte
A carteira de mão debaixo do braço, as compras comestíveis
Na outra, talvez um saco de plástico e dentro dele o lanche
Como se fossem adereços úteis e necessários à coreografia
Fatal condimento de quem atravessa o empedrado da rua...

Disseram-me isso; importa todavia registar neste momento
Que se me tivessem dito outra coisa, eu não a teria escrito,
Ou sequer a teria ouvido suficientemente claro, escutado
Posto em alerta verde sob o aspergido sentido dos afectos.

Não obstante cresceu dentro de mim esta fé em desacreditar
Da mesma forma que muitos acreditam e fiéis rendem culto
Eu me desoculto desacreditando não só no que não vejo, até
Isso eu quero, rir sem fugir de nada mas antes por prazer
De desvendar mistérios, olhar os enigmas como se o não fossem
Tão-só puzzles de reconstruir as tuas alvas faces, o soslaio
Num quadro fácil, de poucas peças, premissas maior e menor,
Conclusão e aventura e ousadia intuitiva, qualquer coisa assim
Numa moldura simples e directa ao ser perdido, perdição de mim
Cumprimento de destino em formato electrónico e design aprazível
Layout de quem se enxuga da solidão na janela do teu sorriso.

Embora as metáforas estejam a fermentar ainda nos cachos,
Muito antes de maduros e colhidos os frutos, até pisados
Liquefeitos a escorrerem-nos dos umbrais dos ombros, a boca
Vitral de dizer na fachada do rosto, equívoco desfraldado ao sol
Ao vento, à chuva, à voz, erguido como tocha de fogo olímpico
Num gesto, circuito integrado de integrar o verbo do teu andar
De quem pisa a morte, ou a tristeza dos dias ordinários, o tédio
O singular emolumento de quem compra vivenda na eternidade,
Um breve jardim antes da porta, sob o alpendre salomónico
Algumas notas musicais que se desprendem do labirinto de buxo,
Ruas e ruelas, becos e transversais, onde gatinham sobrinhos, filhos
Vizinhos chegados, vindo sabe-se lá de onde, a galáxia é pequena
Para caber-te toda no abraço em que tanto demoras a dar-me...
Sonhei-o debaixo da figueira onde dormiam mais de 001000 pardais
Arrumadinhos uns aos outros, quentes e protegidos e livres
De partir, mas preferindo ficar, ficar, ficar, tal como eu fico a ler
Até doer a hora da partida, úlcera na alma rósea de não ler mais!...

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