Décimo Segundo Cálice
Se na equidistância entre estrelas o afastamento a uma é aproximaçãoA outra entre dois pólos navega como pêndulo à procura da unidade
Esse ritmo binário digital com que nos sustentamos irrequieta condição
A bater as horas entre ser e não e não-ser, sintetiza-nos átomo paridade
Ao construir-nos duplos no género mas iguais perante a generalidade.
Olho devagar a concisão de teu sorriso aflorando o recanto da alegria
E nesse olhar em que me vou tornando está o manto rosáceo, puro, liso
Que não descuro nem quanto dele preciso para seguir em frente no dia
A dia, sobre a mesa da ocasião, apenas à solidão calada as letras aviso
Arriscarem-se a perecer se ao cometer a traição temerem doce ousadia
De tecer teus ombros na fina e branca seda dos astros reflexos os areais
Bronzeados mestiços metais nada são se os comparar a alvos celestiais
Das velas navegantes que mundos viram e trouxeram uma página mais.
Duas folhas unidas pela medianiz como dos troncos nasce só uma raiz
A veia feita das duas metades que já foram quartos doutras tantas luas
Ao querer como se crê e tanto quis que as pétalas saídas do cálice tuas
Fossem únicas verdades essas lidas assim tatuadas na pele tão-só a giz
De gizar o caminho ao amaciar o linho da repousada água na líquida fé
De se apagar a mágoa no mansinho ser somente quem, ao querer-te, é.
4 comentários:
Devolvendo em cálices, todos os carinhosos cálices que tenho recebido de ti, amigo. E um pedido especial de que não cale-se... Rsrs... Beijos.
Façamos, então, agora uma reflexão sobre o tempo que para muitos de nós é o tempo.
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Reflexão sobre o Tempo
O tempo me traz,
De repente...
A verdade
Que há nas mentiras;
A face real do escondido;
O tempo pode ser um inimigo
Ou a Justiça sutil.
O tempo...
Anjo ou monstro;
Apenas existe
Sem que alguém conceda-lhe
O direito de existir ou não;
Monstro cruel ou espada justa?
Assim como se fosse Salomão
Com sua Justiça,
Separa para unir;
Une para separar.
O tempo...
Este que nos dá cabelos brancos
Mostra-nos maravilhas
No espanto;
Reduz o soberbo a pó;
Nivela, unifica, arrasta
Ou traz de volta.
O tempo...
Com asas transparentes
Caminha lado a lado
Com o seu alado:
O homem,
Tolo, distraído,
Não o vê chegar,
Fica esperando,
Como que para abrir um livro
Para a cara dele mostrar.
O tempo é fiel
E caminha contigo.
O tempo...
Ele fez de mim, avó;
Ele faz de mim, melhor;
Ele une ou desfaz o nó;
O tempo...
Só o tempo,
Pode te fazer homem;
Pode te tornar imortal;
Só o tempo...
Pode perpetuar o teu
Tempo.
É preciso ter tempo
Para poder buscar
No tempo
O bem do tempo.
(Ednar Andrade).
As estrelícias esculpidas na seiva da voz
Descem os minutos de pétala em pétala
Teu voa delas que nem mais um albatroz
Prestes a escorregar nas algas da fala
Voo em delta vela de ângulo perfeito
Esse de seres pêndulo que dentro do peito
Me navega e marca horas se batendo cala
Esse outro suspiro que voando me exala.
É precisamente esse o tempo da reflexão
Cujo vaivém me balança quando a lança
E flecha de Cupido me alcança o coração!
A poesia agradece, sempre.
Exacto. A poesia é um cálice de gratidão. Obrigado por esse reconhecimento tão sonegado vulgarmente.
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