A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, novembro 17, 2009


Pensei que eras a linha do mar
Que na distância usurpa o olhar;
Pensei esconder a ilusão do corpo
Preferido no silêncio de naufragar;
Pensei que havia um grito absorto
Em cada antecedido gesto de posar.


Pensei que eras a língua do império
Na curva do ser ao dizer “descobrir”;
Pensei sentir o pulsar lúcido e sério
Dum romance onde pudesse intervir;
Pensei que estava na paixão do chegar
E, afinal, ainda nem chegara a partir.


Pensei que eras luz mas fazias a noite
Por cada sorriso em sustenido ensaiado;
Pensei que eras alegria mas eras açoite
Em alambique de metal velho e oxidado.


Pensei em tudo e até em ti, como foras
Um dia à procura do olhar que diz e diz
O silêncio de soletrar ínfimas desforras;
Mas o que pensei ser pensar era querer
A apodrecer de tédio antes do verbo nascer,
Antes de existir e ser, de quem não quis
Inventar o seu próprio nome – e acontecer!

2 comentários:

olga disse...

é impossível ficar imune a tamanha sensibilidade...
respondo-lhe( como já fiz noutro blog)de forma quase autobiográfica :
"quanto mais a sangrar, mais a brilhar"

Joaquim Maria Castanho disse...

Às vezes preferia que não tivesse razão… Mas desta vez, quando o rasgo vai até ao fundo, se não tivermos a sorte de acordar a estrelinha que se reflecte nas águas da derradeira lágrima, a última gota de profundidade possível, acho que estamos próximos, muito próximos, direi antes, demasiado próximos, de admitir, com aquela vénia que se devolve aos nobres momentos, e às pessoas que mais nos tocam a sensibilidade, que desta vez tem carradas de razão. Portanto, sem rebuços metafóricos nem rebuscados estilísticos, confesso que este poema foi escrito com caneta de aparo, molhando o bico no sangue da minha verve. Obrigado!