A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, novembro 27, 2009




Procuro a véspera, a minha flor negra
De raiz branca, a mandrágora e o lótus
O génesis português, o verbo, a regra
De sair vivo porém cativo entre mortos…






Mesmo que a luz nos enfeitice e separe
Estas palavras ficarão, cruas, nuas e vivas
A testemunhar, que se nos céus houver luar
E de te amar nunca pare, nestas velas a brilhar
Ardidas para além dos tempos e das seivas,
Seu fim será breve como leve é este chão de mar,
Este encrespado de espuma e leivas a chamar
No peito dos alqueives ainda por arrotear.




Já que de ao sonho ao sonhado, pressentido então
Seja dado ser infinito se se intentar ser imortal,
Como o de Petrarca, Dante ou até de Nasão,
Porque não o nosso, se é humano quão é real?...




Que eu, à minha parte, a pulso, até sozinho
Prometo bem, e cumpro mesmo ser capaz
De cantá-lo todo o caminho, da ode ao hino
Que à teima de ternura o sexo faz, o ser se compraz
Como as aves fazendo o ninho, palha e palha
Em que nasça menina ou rapaz, génio ou canalha.





Mas importa que seja rafeiro, castanho, mestiço,
Digo zambo, cabrito, simbiose – sei lá!
Para que quando se quebre do sonho o feitiço
Dos corpos ao culto da terra
Se veja nele que houve todos os plurais e há
Metade de cada um sem guerra
Das cores que ao crepúsculo lótus nos dá.







Uma estrela apagada no escuro
Mas que brilhe durante o dia,
Tornando-nos o olhar mais puro
Fazendo da diferença energia.


E que tenha a exigência perfeita, a noção exacta
Do que a (as)simetria faz às cores, faz às formas,
Para que ao ritmo da voz inaudita, tépida e intacta
Diga que as harmonias desarmam, e são normas.


Os diálogos... As trocas ímpares, sem rede.
Como se fôssemos seixos dum regato fundo
Correndo constante ao cristalino da sede
De ter em si mesmos todo o mundo.



E uma propensa mania indigente
De percorrer os dias ao pulsar solar,
Que nem fôssemos a posta-restante
Da noite amante
Em seu correio com o luar


Ou álibis... ou cúmplices... ou sentinelas,
Guardiões dessa fortaleza muralha
Com que um braço é um pão, e o pão as janelas
Com que o futuro nos trabalha


Molda, exige, completa, pede contas,
Diz do tempo mais que a sorte
De esquecer rácicas afrontas
Do pó que é pó, antes e depois da morte.


Porque, para quando todos formos filhos
Dos nossos filhos em mistura de razão
Duma milésima hipótese genética,
Ao beijarmo-nos sejamos os trilhos
De um canto sem mas, nem senão
De gorar a aposta (pari)patética
Ao ser chão que se levanta do chão,
Para logo cair que nem castelo de formigas
Oco por dentro, erecto na visão
Mas sem o discernimento das mãos amigas
Aperradas no Xis de pura comunhão.

Porque mais que os lábios a língua se toca
Cruzando a procura de nós
Que em cada beijo somos a rota
Do sangue e vontade de nossos avós...


Afinal, tão ainda perdidos
Nesse azul de água que é o céu
Em demanda de outro D. João II
Fazendo novo mar desse véu
Que é o tecto do mundo!

Abóbada de um só vitral
Cujo desenho seja uma estrela em rosa
Negra e branca, como da areia nasce o cristal
Dessa seiva incontida
Que faz de teus olhos a flor formosa
Que são as letras de escrever a vida.

2 comentários:

Maria disse...

todos os prémios do mundo. já!
para estas palavras...

jokas.

Joaquim Maria Castanho disse...

Exagero amiga... Os olhos de quem lê também melhoram muito as palavras: teria que repartir esses prémios contigo, por uma questão de justiça justa!